quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
OSVALDÃO
Esta história começa quando eu estava namorando minha esposa e resolvemos viajar com a minha família para passarmos um feriado na cidade de Ourinhos no interior de São Paulo. Ela tinha um Voyage preto que se chamava Osvaldão, muito bem, marcamos a viagem e no dia marcado saímos pela manhã em direção à Ourinhos; eu, minha esposa, meu pai, minha mãe e meu irmão caçula. Pegamos a rodovia Castelo Branco, todos contentes e alegres; não rodamos nem 50 km quando para o nosso espanto o carro começou a apresentar problemas com a refrigeração do motor e elevação da temperatura. Paramos em um posto de gasolina onde havia uma oficina mecânica (já fiquei preocupado, pois todos dizem que esses mecânicos de beira de estrada são doidos para enrolar a gente), onde fomos atendidos por um cara com um macacão todo cheio de graxa e todo descabelado, ao bater o olho no motor assim que abriu o capô do carro já deu o diagnóstico "isso ai é pobrema na válvula termostática", não faço a menor idéia do que seja essa tal válvula, mas meu pai que também é "mecânico" disse logo em seguida: pode arrancar fora que isso aí só serve para dar problema mesmo. O mecânico não se fez de rogado e num instante arrancou fora a válvula, embolsou 40 reais e nos liberou. Eu fiquei meio desconfiado e não estava seguro de continuar a viagem com o carro e sugeri que voltássemos para casa e viajássemos outro dia; meu pai muito seguro disse que aquilo não era motivo para deixarmos de viajar, e assim, pegamos novamente a estrada, rodamos mais alguns quilômetros e o carro começou a esquentar de novo, meu pai mandou parar no acostamento para verificarmos o nível da água, o radiador estava seco, passou a mão numa garrafa de água mineral e encheu o reservatório, continuamos a viagem; mais alguns quilômetros o carro aqueceu novamente, mais uma vez meu pai mandou parar, o reservatório novamente estava seco; meu pai pediu água, mas a garrafa estava seca, não se deu por vencido e desceu um precipício à margem da rodovia, dizia ele: " aposto que lá embaixo encontro água, fiquem ai me esperando" (como se alguém fosse fugir), depois de alguns minutos retorna com a garrafa cheia de água e não deixa por menos: "não disse que achava água ?", cheio o reservatório, reiniciamos nossa viagem. Rodados algumas dezenas de quilômetros, Osvaldão resolveu esquentar até a última graduação do termômetro e travar de vez. Soltei minha pérola: "agora azedou de vez", meu pai mais que depressa saltou para frente do carro e mandou abrir o capô, depois de olhar ali, fuçar aqui, bater acolá, deu o diagnóstico: "acho que essa água está vazando para dentro do cabeçote, vamos ter que rebocar o carro". Estávamos parados em um lugar ermo, mato dos dois lados da estrada e aproximadamente a 1 km do posto de gasolina mais próximo, decidimos que minha esposa e meu pai iriam até o posto solicitar um guincho, enquanto isso eu, minha mãe e meu irmão, ficaríamos a espera à sombra de uma árvore, pois estava um sol de rachar mamona. Botaram o pé na estrada e algum tempo depois estavam de volta com o guincho; rebocamos o carro e retornamos para o posto de gasolina onde havia um box de propriedade do guincheiro; meu pai sem perder tempo já solicitou ao guincheiro se ele teria ferramentas para emprestar; de posse das ferramentas meu pai abriu o tal do cabeçote e para nossa surpresa, estava mesmo cheio de água, meu pai ainda arrematou dizendo que a junta do cabeçote havia queimado; muito bem, o problema foi descoberto e agora onde é que vamos comprar outra junta ? O filho do guincheiro muito solícito se prontificou de ir nada mais nada menos a uma cidadezinha vizinha que ficava a 20 km dali, aonde provavelmente iria encontra a tal junta. Minha mãe passou a mão no meu irmão e o levou para fazer um lanche, o garoto estava verde de fome, nós sentamos ali mesmo no box e ficamos jogando conversa fora e comendo bolachas; eu espumava de ódio e minha úlcera devia estar a ponto de entrar em erupção por não terem me dado ouvidos quando queria voltar para casa no primeiro chilique do Osvaldão. Algumas horas depois o filho do guincheiro retornou com a junta em mãos, como não era de se estranhar o magricela nos deu uma bela mordida em uma porção de reais pelo serviço prestado. De junta trocada, reservatório de água cheio e a barriga cheia de bolacha com água, botamos o Osvaldão para rodar novamente. Quando estávamos a alguns quilômetros da serrinha de Botucatu, o Osvaldão resolveu nos sacanear outra vez, simplesmente o câmbio travou na 3ª marcha e não quis saber de soltar; meu pai disse que teríamos que continuar a viagem rodando em terceira marcha até o fim, o problema era parar nos pedágios. Depois de treze horas de viagem e rodados 385 km, finalmente enfiamos o Osvaldão na garagem. No dia seguinte, um sábado, levamos o Osvaldão a uma oficina de vila, o mecânico nos interrogou, deu uma olhada no carro, conversou com meu pai e disse que levaria uns três dias para ficar pronto dependendo do encontro das peças na cidade. Após três dias pegamos o Osvaldão novo em folha, pagamos quase 200 reais pelo conserto e seguimos viagem para São Paulo; quando faltavam uns 100 km para chegarmos ao nosso destino, o Osvaldão começou a esquentar novamente, na mesma hora todos quase choraram, estava um dia chuvoso e com um trânsito carregado, meu pai mandou parar no acostamento e com uma garrafa pet pegava água na enxurrada e colocava no reservatório; a cada 10 km contados no hodômetro parávamos e colocávamos água no radiador; foi um martírio. Chegamos em São Paulo, minha esposa nos deixou em casa em Taboão da Serra e segui para sua casa em Santana, no meio do caminho os outros motoristas avisavam que o motor do carro dela estava fervendo e estava saindo uma fumaça, ela dizia que estava vendo, pois não era cega; ficou apavorada mas não sabia o que fazer, parou em um posto de gasolina e o frentista disse que tinha perigo de fundir o motor; ela disse a ele que não morava muito longe, ele encheu o radiador com água e a liberou. Faltando uns 2 km para chegar em casa o Osvaldão deu seu último suspiro e travou total; fim da viagem. Minha esposa ligou para sua casa e seu irmão veio socorrê-la. O Osvaldão foi para o conserto, gastou mais uns 700 reais para deixá-lo em condições de rodagem e o vendeu. Acho que até hoje não nos recuperamos daquela viagem, mas uma coisa é certa, morremos de saudades do Osvaldão.
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